quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Da última florada da estação




Como na maioria das vezes, saio de uma apresentação achando que podia ter sido melhor, achando que podia ter sido bem melhor. Essa última florada foi, para mim menos bonita do que poderia ser.
Mas quando ela terminou e ficamos parados em frente às testemunhas, vi que florescemos com uma intensidade contagiadora.

Esse é um grande questionamento meu, o que precisa estar passando em mim, para que eu possa contagiar? Coletivamente florescemos juntos e coletivamente demos um ramo de presente para cada um daqueles, que eram muitos, que estavam lá.





Acerca disso e de outras coisas:

"Consideramos até o momento o Apolínico e seu contraste, o dionisíaco, como forças de arte que emergem da própria natureza sem mediação do artista humano, e nas quais se contentam por enquanto e de modo direto os seus impulsos artísticos, por um lado como o mundo configurado pelos sonhos, cuja perfeição se encontra em qualquer relação com a elevação intelectual ou a formação artística individual, por outro lado como verdade embriagadora, que também não leva em consideração o indivíduo, mas que chega a procurar destruí-lo e redimi-lo por um sentimento místico de união.









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¹Friederich Nietzsche em "A Origem da Tragédia" , versão para e-book, p.41.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

última florada

sabe quando você sente estranhezas no ar?
deve ser final de temporada. o corpo sempre fica mais ansioso do que costumeiramente. fechar ciclos é muito delicado e tão recorrente nos processos femininos... era isso que eu ia dizer:  apresentar SAKURA predispõe meu corpo a estar conectado substancialmente às mulheres, às cerejeiras. parece que nosso corpo desordenado pelos processos naturais do ciclo feminino, a fluição, perturba-nos consideravelmente em energia e disposição. meu corpo parecia não lançar-se no ensaio do dia 24/09/2012. meus olhos não visualizavam folhas em flor sempre lançados para quem ver. estava tudo tão imerso aqui dentro que o meu intuito era sugar, internalizar, deixar dentro e se exilar. alguns encontros do SAKURA são como pontos de encontros de um eu que não é da ordem da atuação, nem dos psicologismos de eu dramático que se envolve irresponsavelmente vida-trabalho-arte... eu diferencio estados. e há estados como o de ontem que a respiração era quem me absorvia, eu não a despejava, o apego estava forte em dores de alma. hoje no espetáculo, final de ciclo, quero dançar-atuar-estar-presente naquele espaço, com aquelas pessoas, com quem for ver. é preciso se despir de toda e qualquer segurança. é preciso lançar-se e depois recolher os pólens para uma próxima germinação. hoje quero morrer para que eu tenha vida em outras paragens. é necessário, faz-se necessário. quero dançar o final de primavera para me recolher num outono, num cuidado de si para si vendo o corpo criar vida e lançar-se ao desconhecido. sinto anseios de chorar como o nosso pedido de socorro das cerejeiras que vai ao encontro de. ao encontro de. é um sinal de alerta. está forte em mim um cansaço de alma e uma alegria pela colheita ter sido saudável. dói acabar algo. dói se despedaçar em flor. dói permitir-se morrer...  é vivo em mim a vontade da vida. convido você a colher anseios de vida-morte-vida. respiro.


SAKURA MATSURI: O JARDIM DAS CEREJEIRAS
Direção Tomaz de Aquino
Teatro DRAGÃO DO MAR, hoje, às 20h.ÚLTIMO DIA. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

primeiras considerações sensíveis de minha parte.

foto retirada do google imagens.
faz tempo que um espaço como esse de confluência de sensibilidades meu corpo atuante pedia, sentia - verbos de ação que solicitam uma co-dependência das partes. 

não lembro bem a quanto tempo estamos mergulhadas, ou mergulhando, nessa estética de sombras e dores e mortes e renascimentos. 

o fato é que juntamente com esse trabalho tenho florido possibilidades de existência que caminham ao encontro de uma atuação que a fala é o corpo. 

literalmente o corpo. 

não há como eu fugir da observação de estados de iniciação corporal em todos que fazem o SAKURA MATSURI. assim como não há como fugir do processo de integração total que nos colocamos como ponto de partida. 

ponto de partida, não. 

a integração total tem sido o processo, a linha de investigação unipessoal dos seus participantes. tenho muito que expor em palavras turbilhões que acontecem em mim que são, às vezes, explicáveis e muitos deles não.

estou aqui. estou com todas na semeadura da criações: estéticas, éticas, visíveis e invisíveis.

os laços se fortalecem!

Quando elas ficam lindas, é sinal que o "inverno" se aproxima...